quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Cósmico


Porque metade de mim é belo.


Estas luzes que batem em minha retina fazem-me ver um mundo tão colorido. Que contraste! Que contraste ao negro supremo que habita em mim. Às vezes basta apenas isso: uma faísca. Uma pequena centelha que ilumina o peito, ela escorre por todo o resto; cintura, virilha, pernas, pés. Expande; ombros, braços, mãos, pescoço, cabeça; fios de cabelo. Todo o negro se ascende.
Tomo algo, respeitando meu corpo, para que minha mente flane pelas paredes do meu eu. Um shot flutuante. Plena, ao som de uma batida posta, a meu gosto, para admirar as estrelas no concreto que fecha a cúpula. Cúpula alcova, cúpula cabeça.
As pernas já não me fazem parte, têm elas agora vida própria e me levam ao chão. O som vibra por todas as paredes, de pele ou cimento, enquanto as luzes salpicam a escuridão.
Penso no amor não retribuído. O que me causava dor agora me deixa completa. Não obstante a rejeição, você se basta – penso. Você é tudo o que precisa e o que quer. Você está no centro e você é o seu próprio mundo, mesmo diante da natureza indômita de seus impulsos. Reverencia-os com vênia, é preciso respeitá-los – assim concluo.
Vá!
Porque metade de mim também é belo.
A poeira da explosão cósmica questiona minha realidade pária, chega a mim com vida, resplandecente, iluminada, fruto de algo que há milhares de anos já não vive mais. O que estava morto ontem reverbera vibrante e vívido aos olhos. Talvez seja essa a dinâmica dos meus sentimentos.
Vamos ficar aqui, minhas fagulhas e eu, até que o céu se abra. Vamos ficar até que um pequeno raio solar entre pela fresta de minha janela e sugue para si toda a poeira das estrelas mortas, como farelos de ouro, subindo, seguindo cegamente a luz.

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