domingo, 24 de abril de 2011

Só para constar: o príncipe encantado não veio em um cavalo branco te salvar. Mas, olhe para os lados, você está rodeada de reis e rainhas.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Porque eu sou Bauhaus.


Não me pergunte
O que você sabe é verdade
Não tenho que te contar
Eu amo seu coração precioso
Eu, Eu estava parado
Você estava ali
Dois mundos colidiram
E eles nunca poderiam se separar
Nós poderíamos viver por um milhão de anos
Mas se eu te machucar, faria vinho de suas lágrimas
Eu te disse que nós podemos voar
Porque todos nós temos asas
Alguns de nós não sabem porquê
Eu, Eu estava parado
Você estava ali
Dois mundos colidiram
E eles nunca poderiam, nunca, se separar.
Eu fico me perguntando qual é sentido que você dá à sua vida. As pessoas podem ser tão intesas quanto uma descarga elétrica em dias de chuvas... Mas, você... Você é uma incógnita. É ou era... O que eu achei ser espírito de liberdade traduziu-se em pura solidão. Tão pura que você não se importa mais. Fala com as paredes como se fossem antigas amigas.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O EQUILIBRISTA

O equilibrista e sua bola de cristal! O equilibrista escorrega a sua bola de cristal a noite toda por seu corpo. Este é o seu jeito de dominar o caos; então o equilibrista tem, sob seus pés, os passos da vida. A bola o acompanha em uma contradança; o mundo está caindo, o mundo está sorrindo, ele não se importa realmente, pois, está concentrado em manter o controle.
Polaco, como era conhecido, era moço bem apessoado e de boa índole, costumava passar muitas madrugadas nos faróis da capital Paulista com roupas características a de um circense; os remendos xadrez, costurados de maneira assimétrica, bordavam uma calça surrada, coberta por um fraque que, apesar de antigo, ainda mantinha certa elegância. A costura de sua roupa era justa ao corpo na medida em que a vestimenta não atrapalhasse sua performance. Trabalhava todas as manhãs em um almoxarifado qualquer e empoeirado organizando peças das quais ele não entendia sua função. A vida não lhe era fácil, a cidade era barulhenta, as linhas de metrô congestionadas e as ruas perigosas; isso tudo não se comparava aos seus dramas pessoais, é de se dizer que outro em seu lugar logo poria a lamentar-se, mas o rapaz mantinha-se sempre calmo. À noite, talvez para fugir dos problemas, talvez por necessidade, ia ao mesmo farol exibir seus talentos com malabares. O equilibrista parecia brincar com as leis da física; era naquele instante em que o Polaco sentia-se um deus desafiando a gravidade, era naquele instante que ele saia de si para virar arte. Quando falo sobre a hipótese de Polaco estar lá, naquele farol, por necessidade, me refiro mais a sua própria ânsia pelo espetáculo do que pelos míseros trocados que recebia. Lá seu mundo estava em ordem. Dos malabares, seu preferido era sua bola de cristal, ela era seu globo – ele dizia – e a este globo, quem determina o destino sou eu. Sua bola não era como costumava ser a de seus outros colegas de ofício, sua composição vítrea não era densa e resistente como as demais. Quando ainda era um menino, a encontrara dentre os enfeites da antiga casa em que morava e desde então sua companheira passou a percorre-lhe o corpo diariamente. É provável que o seu material não fosse feito de cristal verdadeiro, mas sua geometria específica lhe atribuía uma postura cristalina que reluzia um prisma de cores sob a luz, como uma bolha de sabão. Ao cristal, sua bola também pode ser comparar em sua fragilidade de modo que, com apenas um deslize, ela se quebraria para sempre em milhares de estilhaços. Polaco, entretanto, não precisava preocupar-se com isso; exercia sua graça de equilibrista com maestria, de todas as suas apresentações nunca havia se quer titubeado em algum movimento.
Certa vez, Polaco envolveu-se com umas dessas meninas que vagueiam pelas ruas pedindo esmolas, e passara a frequentar as redondezas de seu farol. Era uma garota com rosto de cigana, de olhos castanhos e cabelos longos encaracolados. Amara cheirava incenso, usava um grande vestido branco com rendas em sua barra, brincava de ler cartas e quiromancia, ganhava a vida no centro da cidade assustando a gente humilde com falsas profecias – uma bênção em troca de dinheiro – era sua bandeira. Ai, se não lhe dessem o dinheiro; uma praga lhe seria rogada e dentro de sete dias você perderia até os cabelos.
E foi deste trejeito cigano, deste cabelo encaracolado, do balançar de seus quadris, que Polaco, não contente com todo seu malabarismo, ousou equilibrar também seus passos nas tranças de Amara. Daqui, do lado de cá, de onde observei o talento de Polaco e pude trocar-lhe algumas palavras enquanto servia-lhe um pingado, testemunhei sua alegria e seu declínio por conta da moça. Nunca achei que ela fosse gente confiável, o modo como sorria para ele enquanto enrolava seus dedos no cabelo, parecia-me traiçoeiro. Infelizmente, eu não estava enganado, estes anos todos não foram passados em vão por mim, aferindo-me apenas rugas. Não houve nada que pudesse ser feito, Polaco estava embevecido, travava conversas ofegantes como todo jovem apaixonado e irritava-se com qualquer tipo de alerta. Carolina, aquela jovem que trabalha no caixa, disfarçava e punha-se a chorar todos os dias em nossa dispensa por conta de Polaco. Carolina é uma moça decente, não é inferior a Amara em beleza, mas tornava-se insossa diante da postura cigana de Amara. Eles, Carolina e Polaco, eram amigos muito próximos, todos os dias quando fechávamos, Carolina sentava-se na esquina para ver suas pequenas apresentações entre o abrir e fechar dos faróis. A amiga passou a alerta-lo também, o equilibrista, por sua vez, cego de amor, atribuía seus comentários ao ciúmes, acabaram por ter uma severa discussão e rompendo com a amizade. Amara também não gostava dessa relação – ele dizia.
Não demorou muito para Amara estar nos braços de outro. Ainda lembro-me bem; no meio de uma de suas apresentações, a jovem passou aos sorrisos com outro rapaz, no mesmo instante, Polaco ficou paralisado. Diante das lanternas dos carros que resplandeciam suas lágrimas, o equilibrista parou seu show, estendeu o braço e abriu suas mãos para que sua bola de cristal caísse. Os estilhaços sobrepuseram-se em toda sua frágil corda. Cortaram-na! O equilibrista caiu. Polaco agachou-se para pegar seus cacos, foram as pequenas frações da sua bola, agora desfeita, que cortaram e fizeram-no sangrar. O rapaz viu sair de si, como se o seu corpo chorasse, uma explosão rubra, a paixão dilacerava seu o corpo.
Depois de tudo, nunca mais o vi neste farol. Amara, de natureza itinerante, com o tempo afastou-se daqui e, desta história, tudo que restou foi Carolina, que todas as noites espera sentada na esquina de sempre, que Polaco apareça para fazer um espetáculo.