terça-feira, 26 de dezembro de 2017


Hoje fiz uma curva em meu caminho, andei pelas ruas do meu passado.
Era um dia morno, como eu, naquele instante. Sem umidade que verte de nuvens ou calor que excita o sol sobre nossa pele.
Achei um dia prudente; porém, ao dobrar a esquina, vi o meu ontem já um tanto distante, chorei tal qual criança sem colo.
Um choro santo que evocava tudo o que de melhor havia, ou há, em mim.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Cósmico


Porque metade de mim é belo.


Estas luzes que batem em minha retina fazem-me ver um mundo tão colorido. Que contraste! Que contraste ao negro supremo que habita em mim. Às vezes basta apenas isso: uma faísca. Uma pequena centelha que ilumina o peito, ela escorre por todo o resto; cintura, virilha, pernas, pés. Expande; ombros, braços, mãos, pescoço, cabeça; fios de cabelo. Todo o negro se ascende.
Tomo algo, respeitando meu corpo, para que minha mente flane pelas paredes do meu eu. Um shot flutuante. Plena, ao som de uma batida posta, a meu gosto, para admirar as estrelas no concreto que fecha a cúpula. Cúpula alcova, cúpula cabeça.
As pernas já não me fazem parte, têm elas agora vida própria e me levam ao chão. O som vibra por todas as paredes, de pele ou cimento, enquanto as luzes salpicam a escuridão.
Penso no amor não retribuído. O que me causava dor agora me deixa completa. Não obstante a rejeição, você se basta – penso. Você é tudo o que precisa e o que quer. Você está no centro e você é o seu próprio mundo, mesmo diante da natureza indômita de seus impulsos. Reverencia-os com vênia, é preciso respeitá-los – assim concluo.
Vá!
Porque metade de mim também é belo.
A poeira da explosão cósmica questiona minha realidade pária, chega a mim com vida, resplandecente, iluminada, fruto de algo que há milhares de anos já não vive mais. O que estava morto ontem reverbera vibrante e vívido aos olhos. Talvez seja essa a dinâmica dos meus sentimentos.
Vamos ficar aqui, minhas fagulhas e eu, até que o céu se abra. Vamos ficar até que um pequeno raio solar entre pela fresta de minha janela e sugue para si toda a poeira das estrelas mortas, como farelos de ouro, subindo, seguindo cegamente a luz.